Francisco Estêvão
Exu é uma cidade pernambucana que se tornou conhecida em todo o país, em face da divulgação feita por seu filho Luiz Gonzaga, através de suas músicas. Dista apenas alguns quilômetros da cidade de Crato, no Ceará. A nossa chegada ali coincidiu com a véspera de aniversário da morte do Rei do Baião e no dia seguinte, bem cedinho, ocorreu uma serenata/passeata com dezenas de sanfoneiros tocando as músicas do conterrâneo.Não foi somente o nome daquela cidade que Gonzaga tornou conhecida. Divulgou também o nome de diversas outras cidades e pessoas.Quem, em qualquer época, apreciou as músicas de Luiz Gonzaga, na certa já ouviu falar em Rosinha, Helena, Januário, Bodocó, Taboca, Caruaru, Salgueiro, Granito, etc. Quem não se lembra de “... Adeus Rosinha, não chore não, viu...”, “Helena traz a sanfona, depressa, meu coração...”, “... Mas antes de fazer bonito de passagem por Granito foram logo me dizendo: De Taboca à Rancharia, de Salgueiro à Bodocó, Januário é o maior!´ E foi aí que me falou meio zangado o véi Jacó: Luí respeita Januário...”Tudo hoje em Exu lembra Luiz Gonzaga: A rodovia que corta a cidade e se bandei para o resto de Pernambuco se chama Rodovia Asa Branca, os “orelhões” têm o formato do chapéu de couro usado por Gonzaga, posto de combustível Gonzagão, Restaurante Rosinha, Lanchonete Helena Gonzaga, Pousada Januário, e tem ainda o museu de Luiz Gonzaga.Exu é dinâmica, efervescente, ruas largas, comércio próspero.
Luiz Gonzaga conseguiu transformar a cidade numa verdadeira botija de ouro.
A primeira vez que ouvi falar em botija foi lá mesmo em Exu. Não nessa viagem mas a uns cinquenta anos atrás. Botija é um tesouro enterrado. Mais especificamente é um buraco onde as pessoas abastadas, por avareza ou por medo de serem roubadas, já que não dispunham de bancos (e se dispusessem provavelmente não confiariam neles), enterravam suas fortunas, talvez, na forma de moedas de ouro, condicionadas em potes ou outros recipientes de barro. Não eram poucos os que morriam sem revelar o local do tesouro e muita gente ficava a sonhar com o de cujus a lhe indicar o local exato da botija.
Inúmeras vezes eu e minha mãe descíamos a ladeira que liga a Serra das Camarinhas a Exu Velho (distante umas duas léguas de Exu, que antes era chamado de Novo Exu). Embaixo estava a bodega do Mundim Moreira, o Olho D`água e as ruínas de uma capela, bem na beira do caminho. O interior do que restava da capela era todo esburacado, e os buracos, segundo, diziam, correspondiam a botijas arrancadas.
Pois bem, uns cinquenta anos depois voltei aquele local. A bodega do Mundim Moreira já não existe e o Olho D`água foi canalizado para abastecer a cidade. Não me lembrava da existência de uma casa grande no local - casa do Barão de Exu - mas o fato é que a referida casa está ali, onde residem descendentes seus. Por curiosidade perguntei a um dos descentes sobre a capela e as botijas e ele informou que as ruínas da capela ainda subsistem e que, segundo sabe, as botijas se deram ao fato de que os jesuítas, que tinham enterrado suas fortunas no interior da capela, em face, talvez, de um ataque dos índios, fugiram e não tiveram tempo de desenterrar o ouro.
Ao lado dos buracos já foram encontrados pedaços de potes de barro, evidenciando que alguma coisa foi desenterrada.
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