sábado, 13 de dezembro de 2008

De Facas & Juízes

[Publicada antseriormente no blog Poemas, contos e Crônicas em 18/10/ 2008] Francisco Estêvão

Quem mora nas capitais certamente já presenciou muitas vezes a polícia chegar em um recinto e proceder a busca de armas nas pessoas presentes. 
Já no interior, essas incursões são bem mais raras. Isso se dá, talvez, por número insuficiente de policiais, mas nunca por número insuficiente de armas. Andar armado no interior já foi prática generalizada, embora hoje em dia não se possa dizer isso... Permaneceu, no entanto, a arraigada cultura, ao ponto de o camarada até quando vai ao dentista, levar a sua velha companheira junto ao corpo, o que é de deixar qualquer odontólogo assustado... e não é pra menos, como ocorreu com um amigo meu (não o paciente, mas o dentista – veja o caso no blog http://amiltonlive.blogspot.com/2008/08/faca.html). 

E muita gente acha que tem o direito de andar armada e que é um verdadeiro disparate ter a sua arma – geralmente faca, pois revólver é para quem tem mais recursos – apreendida.

Conta-se que um juiz, recém-chegado a uma cidade do interior, entrou numa lanchonete e sentou-se junto ao balcão e ficou lendo enquanto era atendido. Em pouco tempo sentou-se ao seu lado um homem com uma enorme faca, bem visível, na cintura. O juiz achando que aquilo era uma falta de respeito à lei, virou-se para o indivíduo, estirou a mão e ordenou:
- Entregue-me essa faca!
O sujeito não se fez de rogado e entregou-lhe, meio espantado, a dita faca. O juiz pegando a mesma colocou-a sobre o balcão e continuou lendo.
O homem, ainda meio espantado, chamou o atendente da lanchonete e perguntou, baixinho, quem era aquele que lhe tomara a faca, ao que lhe respondeu o balconista que se tratava do novo juiz. 
Em seguida, agora já recomposto do espanto, botou a mão sobre a faca e a retomou, exclamando:

- Passe minha faca pra cá! Pensei que você fosse um soldado...!

É comum em alguns lugares, no interior, alguns confundirem a pessoa e a função do juiz com a do delegado e vice-versa, de modo que querem relatar fatos, que deviam fazê-lo ao delegado, ao juiz e também levam muitos casos que fogem da competência do delegado, a este, como por exemplo, casos de família, que devem ser tratados, em segredo de justiça, no Fórum.

Certa feita, em uma cidade do interior (não vou dizer que foi na cidade onde moro) um cidadão chegou ao Fórum e pediu para falar com o juiz (não vou dizer que o dito juiz era este que vos escreve). Perguntado do que se tratava, declarou:

- Dotô, vim aqui falar cum voismicê, pra reclamar dos soldados. É que eles ontem de noite, quase meia noite, tiveram a coragem de tomar minha peixeira e fui obrigado a ir pra casa sozinho, naquelas horas e... desarmado.

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