domingo, 21 de dezembro de 2008

A nuvem e a grama

Francisco Estêvão



Era uma vez uma nuvem que, lá do alto, avistou na terra a grama linda e vicejante. E de tanto observar a grama, viu que a mesma era cheia de beleza e frescor. E observou e observou e observou tanto, tanto, que cada vez mais foi aumentando sua admiração por ela. A sua admiração era tamanha que já não pensava mais em nada a não ser descer para terra e viver junto da belíssima grama. Já não tinha ânimo para nada... começou mesmo a dar sinais de que havia paixão... estava ficando meio abobalhado... (não era abobalhada, pois era uma nuvem do sexo masculino)! Se bem que nem todo abobalhado (a) é apaixonado (a).

O vento muitas vezes convidou-o para dar uma volta, passear pelo céu, conhecer novas paisagens, mas nada...
O seu desejo foi aumentando de um modo, que já estava com a boca cheia d água... A água foi aumentando tanto em sua boca que acabou tomando conta de seu corpo inteiro e ela começou a pingar... De pingo em pingo, quando se deu conta estava toda embaixo, junto com grama e ficou lá, embevecida, do jeito que sonhara.
A grama, por sua vez, tirou muito proveito dessa união, sempre fresca e bonita e produzindo muita semente. E a nuvem, agora transformada em água, não saia dos pés da grama, providenciando alimento abundante, em forma de irrigação e a umidade necessária para que a grama permanecesse sempre bela.
Passado algum tempo as sementinhas produzidas pela grama começaram a nascer e era preciso de mais alimento em forma de água. Foi aí que a nuvem (agora água) teve a idéia de conversar com a grama para convidar os parentes da nuvem para ajudar. A grama, que se chama Esmeralda, embora não seja igual à sua prima a grama Bermuda, conhecida na ciência como Cynodon dactylon, que é mais apropriada para esporte pesado, como futebol, tênis e outros, sempre foi muito hospitaleira, permitindo a presença de qualquer um sobre sua área, onde se pode brincar jogar bola, deitar, rolar, correr etc. É claro que a Esmeralda, cujo nome científico é Zoysia japônica, concordou com a idéia da nuvem. Assim, numa linda manha, logo cedo, chegou a parentela toda da nuvem. Com o tempo, as sementinhas que nasceram estavam todas adultas e o gramado ficou muito denso e o dono da casa viu que estava na época de aparar a grama, ainda mais que estava para chegar o verão.
Com a chegada do verão a água (antes nuvem) começou aos poucos a se transformar em vapor e acabou por evaporar-se completamente. A grama, agora aparada, mostrando as raízes quase secas como que com saudades da nuvem, que não mandou mais notícias, perdeu o verdor, a graça e quase não via água e quando via era pouquíssimo e não matava direito a sua sede. Só aumentava as suas lembranças.
O verão estava fortíssimo. Nenhuma nuvem no céu. Nem mesmo uma cumulus, aquela nuvem mais comum que gosta de aparecer, sozinha, em forma de algodão, no céu, nos dias de verão.
A grama estava cada vez mais seca, quase sem esperança, mas não deixava de ficar examinando o céu, que era cada vez mais azul, pela falta de nuvens. O dono da casa não lhe dava mais nenhuma atenção, achou até que ela já estivesse morta e assim resolveu não gastar água à-toa e passou a cuidar das roseiras, das samambaias, das azaléias e de outras plantas.
Numa certa tarde sentiu algo diferente na atmosfera, teve a impressão de que a umidade do ar estava aumentando. Olhou mais atentamente para o céu e verificou que algumas nuvens estavam começando a se formar. Passou a noite mais confiante e sentiu que foi visitada por pequeno sereno da madrugada. Pela manhã a umidade do ar aumentava cada vez mais. Olhou para o céu e este estava com a cara de chuva.
Não tardou e a sua nuvenzinha querida chegou, ligeira, se derramando em lágrimas.

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